segunda-feira, 15 de outubro de 2018

EU ESCOLHO MEUS AMIGOS PELA PUPILA

E tivemos outro desses (21/07/2018) : onde os sorrisos são encharcados de boas lembranças de memórias compartilhadas... o que não sei de mim, o outro sabe... e traz. Risos e gargalhadas nos embriagam de serotonina... começamos a nos encontrar quando a maioria fazia quarenta... agora não vamos mais parar... até que os encontros se tornem fortuitos, com datas não agendadas para as despedidas definitivas depois que virarmos a casa dos 100... 
Agradeço, em especial, Beta e Marcos, que enfeitaram o último encontro com uma cerimônia de renovação de votos de quase 30 anos de matrimônio. Além disso, fomos embalados afetivamente com palavras sinceras de Bethânia ao final daquela fantástica liturgia; texto que passo a transcrever abaixo:

"Escolho meus amigos não pela pele outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante. A mim não interessa os bons de espírito, nem os de maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta: quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e aguentem o que há de pior de mim. Para isso, só sendo louco. Quero os santos para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.
Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta ! Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria!
Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade; Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos. Quero amigos sérios que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, ao mesmo tempo em que lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos e nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade, velhice! Crianças para que não se esqueçam o valor do vento no rosto e velhos para que nunca tenham pressa. Tenho amigos pra saber quem eu sou. Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que normalidade é uma ilusão imbecil e estéril.
Vocês estão aqui [na cerimonia] é porque fazem parte da minha história, especiais e incríveis. Amo vocês com todo o meu coração"
Maria Bethânia Daros Dantas Campos

sexta-feira, 5 de outubro de 2018

Histórias de capiau: daquelas novidades tecnológicas

O ano era 1986. Chegava ao mercado os aparelhos de vídeo que lia fitas VHS (ou BETAMAX - anteriormente). A onda agora era "cinema em casa" escolhendo o filme, os filmes em SUPER8 eram caros e de má qualidade. Meu pai não era dado a novidades... pagava pessoas pra lavar as roupas de nossa casa, quando já havia máquinas de lavar roupas a décadas...
Mas o foco aqui não será nem o vídeocassete, nem a máquina de lavar roupas... quero compartilhar uma de muitas férias em que trabalhava no sítio do meu pai. Sobre esse trabalho, sim, que quero te contar umas coisas bem legais.
Logo que cheguei na roça (a gente chamava o sítio assim), meu pai Saul me disse: Vamos ter de vacinar uns bezerros e aproveitar para mochar e marcar eles... preciso de sua ajuda ... (como seu eu tivesse escolha).
Quem sabe desses movimentos junto aos filhotes desses dóceis ruminantes lembra que, devido ao tamanho, não há como colocá-los no corredor, pois passavam por baixo das réguas de contenção..
É preciso pegá-los a mão pra qualquer coisa que se faça: Vacinas, queima do chifre ou a marcação... que aprendi recente com alguém muito amada, que pode ser chamado de carimbação... onde o ferro de marca (como eu conhecia) é chamado de carimbo.
Bom, eram muitos bezerros, não me lembro quantos. Alguns pequenos e mais fáceis de dominar e imobilizar. Estávamos meu pai, alguns funcionários e eu.
A coisa era (e ainda deve ser) mais ou menos assim: colocava alguns bezerros (uns 5 de cada vez) em uma área do curral em que pudesse ser pego e imobilizado no chão. Corríamos ao lado do bezerro, abraçando seu pescoço e dando um leve giro pra desequilibrá-lo e levá-lo ao chão. Minha consultora especialista já citada, lembrou-me que, estando ao chão, o rabo do bezerro era colocado entre suas patas traseiras e puxado pra cima, ajudando a deixá-lo quieto... talvez daí a expressão "saiu com o rabo entre as pernas"...
Acontece que, ao correr ao lado do bezerro, você pode ter seus pés pisados por ele, e ainda pode cair junto com ele, e, claro, ser lameado pela pasta mais presente nesses currais, pasta esta rica em nutrientes orgânicos colocada em jardins e plantações diversas.
Não tinha tempo ruim pra mim. Queria deixar um bom nome como filho do dono. Enquanto os funcionários escolhiam os mais novinhos, eu juntava forças nos mais robustos, desafiando seus brandidos de protestos à sua imobilização. Minha coragem era reforçada pelos gritos e elogios do meu pai, que dizia: Ocês tem que fazer que nem o Saulzinho... cês fica com medo do bicho!"
Fomos almoçar bem tarde, pra conseguir fechar o serviço. Morto de fome, lavei as mãos e os braços pro almoço... não era uma companhia muito cheirosa naquele dia...
Mas onde fica a tecnologia?? Enquanto almoçava, meu pai me perguntou se ainda queria comprar o tal aparelho de passar filme, como disse ele.
No outro dia, fomos comprar um SEMP 4 cabeças. Tope na época. Fiquei feliz tal qual pinto no lixo. Valeu a pena os pés cheio de hematomas dos pisoes e o cheirinho de esterco que me acompanhou uns dias ...
Meu pai era uma pessoa grata. Aliás, essa foi uma da muitas virtudes que deixou pra mim.

sexta-feira, 28 de setembro de 2018

A Empatia se matou

Meu amigo Iranildo Ferreira, sensibilizado pela vida e pelas relações humanas, escreveu:
"Dias atrás, em face a mais uma tentativa de suicídio, na terceira ponte, belíssimo e importante elo de ligação entre a capital capixaba, Vitória, e a importante e linda cidade de Vila Velha. Vendo e ouvindo as vozes que ecoavam do caos promovido pela interdição da ponte, jornalista Aglisson Lopes de A Gazeta escreveu que naquele dia a "Empatia Pulou da Ponte".
É possível que aquele tenha sido mais um dia em que a Empatia tenha pulado da ponte. Digo mais um dia porque vivo com a triste sensação que todos os dias a Empatia pula ou é convidada a se retirar de algum lugar. Dessa forma, no trágico e competitivo cenário da vida contemporânea, a Empatia parece perdido espaço nas relações familiares, no processo de ensino de valores para as futuras gerações, nas relações de trabalho, no corrido, apressado e sempre concorrido trânsito, nas ônibus, trens e metrôs, nas filas de bancos e outros ambientes de prestação de serviço, nas escolas, nas ruas, praças, IGREJAS em qualquer lugar onde o homem estar. O sujeito humano desse tempo esqueceu que é humano e que como tal, precisa do outro para viver, para crescer, para se reconhecer como humano e também ser reconhecido. O outros, suas lutas, problemas, dramas, sofrimento, fragilidades e miséria reflete em mim e pra mim o que também eu sou, ele e eu existencialmente não somos tão diferentes e talvez, para evoluir, crescer, viver saudável eu preciso mais dele do que eu imagino.
Entretanto sem Empatizar com o outro, sem me reconhecer no outro, o homem contemporâneo tem coisificado a vida, as pessoas, as relações, numa dinâmica do cada um no seu quadrado, cada um com seus problemas e na relação ele e eu, antes ele doente do que eu, antes ele ferrado do que eu, antes ele morto e eu chegando em casa na hora e assim a vida tem seguido, como uma orquestra só de solistas, sem harmonia, conjunto, afinação fazendo apresentação de si para si, com canções agressivas, frias e sem vida. Volta Empatia, não podemos viver sem você."
https://www.facebook.com/iferreiradearaujo

domingo, 16 de setembro de 2018

A Menina

Ah, a menina...! a Menina que curou minhas dores,
A menina que mostrou de novo as cores...
Que no seu cheiro, mostrou-me novos amores...
Nos seus carinhos outros odores...
Ah, essa Menina...

sexta-feira, 17 de agosto de 2018

Re-começo

Por vezes me pego pensando no que é mais difícil na caminhada: o começo ou o re-começo.
Lembro de duas situações: minhas subidas ao Pico da Bandeira (foram três vezes - 1986/ 1999/ 2001) e uma viagem de quase 3 mil quilômetros de moto (2015)...
Em cada parada da subida, repensar, ao levantar, se continuaria ou não... o recomeço. Avanço ao certo de um enfado descomunal de cansaço e dores, com a compensação de uma visão de 2.892 m acima do mar. Dores espalhadas de um frio abaixo de zero, com um vento gelado somado ao ar rarefeito, que dificultava respirar... A primeira vez foi mais fácil: a adolescência, a curiosidade de não ter ido, a aventura, a adrenalina do desafio... a segunda vez, já sabia das dores e dificuldades... que se repetiriam... mas aí que está a coisa: eu não era o mesmo! As experiências e os anos vão nos ensinando a lidar com as repetições das dores... reagimos diferente. Já sabemos onde deve estar as esquivas, e também onde será mais fácil pisar...
Quando fiz a primeira parada de moto, 130 Km, na cidade de São José do Rio Preto (indo pra Vitória), pensei: o que eu quero fazer? Me faltam 1.300 Km... pensei eu... tirei uma foto. Segui viagem. Foram 6 dias pilotando, ida e volta. Na primeira noite as dores espalhadas pelo corpo indicou a primeira falha de planejamento: os analgésicos. Dali pra frente eram duas substâncias a cada 6h. Cada parada, principalmente, nos primeiros 600 Km da ida, precisava de re-começo.
É difícil recomeçar. Haviam momentos em que queria mesmo era parar a vida e deitar, deixando o tempo passar e as dores sumirem... difícil recomeçar com dores... não há analgésicos pra todas elas, não é ? Levantar e caminhar significava confrontar as dores para as quais não havia analgesia, senão atravessar todo o caminho proposto... e voltar ... há , voltar...
Tanto o pico da bandeira, 9 Km a pé de subida, quanto a viagem de moto, trouxeram experiências sensitivas surreais: visão da Serra da Canastra (Capitólio-MG) e enquanto subia o pico, percebia a mudança louca de uma referência: antes do pico, olhava pra cima e via, entre as nuvens, o azul do céu... lá de cima, olha-se pra baixo, e entre as nuvens, vê-se o verde das matas (Parque do Caparaó - MG)... E os cheiros ? ah, como amo os cheiros... cheiro de mata, cheiro de estrada, cheiro de liberdade...
Prefere parar ? Melhor não arriscar ? A vida é sua, ninguém deve te julgar... mas perderá ! Algumas experiências não serão suas... A verdade é que vai cansar muito!! Mas julgue o que quer perder. Todas as decisões que tomamos, perdemos e ganhamos.

sábado, 11 de agosto de 2018

Visão do "Pai"

Não existem manuais de como ser pai. Talvez autores possam ajudar no comportamento adequado para com os filho(a)s; mas isso não é ser pai, porque somos a partir dos olhos dos filhos. O meu pai, é o que eu o vi ser, o que eu decidi ver.
Nas décadas em que nasceram meus irmãos mais velhos era importante ver o pai como austero, autoritário e bravo. Minha mãe construiu essa imagem dele... como cheguei por último, ele tinha mais de 40, e o meu irmão que era o caçula tinha 8 anos, fiquei distante dessa imagem construída. Não sei se minha mãe já havia se cansado ou eu mesmo que não "peguei" a idéia de bravo... mas me lembro um dia em que estávamos todos na cozinha: Era um cômodo grande, o maior da casa. Haviam duas janelas. O fogão a lenha estava ao lado de uma das janelas. Uma mesa com 10 cadeiras. Estávamos todos ali brincando e conversando: Três irmãs, um irmão e mais um rapazinho (Zé Catoá) que regulava idade com meu irmão, ele era um tipo de pajem pra mim. Minha mãe gerenciava a todos nesse ambiente.

Quando se ouviu o barulho do jeep indicando a chegada do pai, foi como se tivesse soado um tipo de alarme: minhas irmãs correram para o quarto e meu irmão, com o Catoá, correram para o paiol, a simularem que estavam quebrando milho, ou algo do tipo "produtivo"... eu, com 5 anos, aguardei ansiosamente o carro ser estacionado na garagem, e fui correndo recebê-lo... naquele dia, especialmente, nem sei porque, ele trouxe um saco de balas, que me entregou, depois de erguer-me em seu colo. Sua doçura e meiguice seria marcada em minha memória por essas balas e o colo...

Há, e o colo de pai empodera. Faz com que a visão fique alta... bem alta. E no colo dele podemos mais... muito mais.

Mais tarde entendi que esse pai seria finito... um pouco mais tarde vi sua finitude na fragilidade de saúde... o perdi antes que eu fizesse 26 anos... eu havia descoberto a pouco tempo que era pai também.

Bastou-me achar o colo de um outro PAI. O Eterno sempre me oferece esse colo maior: acolhe, consola, amplia a visão, alarga os horizontes, e encoraja a viver ! Descubra essa adorável adoção de Deus!

quarta-feira, 8 de agosto de 2018

TÔ COM SAUDADE DELE


por Marcos Inhauser

Viajando, parei em um posto de gasolina para tomar um café. Era bem cedo e ali estávamos vários para tomar o café da manhã. A pessoa que me atendeu estava fazendo o meu com leite quando uma outra atendente, bem mais jovem, dela se acercou e perguntou se ela tinha visto ultimamente um senhor que costumava passar com regularidade.
A que estava me atendendo, pediu mais detalhes sobre quem ela estava falando. A mais jovem disse que era o “senhorzinho” que a chamava de “minha linda” e que, quando ia embora, sempre dizia; “ainda caso com você”. A mais velha disse que há algum tempo não o via. A outra perguntou: “será que ele está enfermo?”. Pode ser, mas também pode ser que tenha morrido. Ele era já bastante idoso.
Olhei para a mais nova e percebi que seus olhos marejaram. Ela se emocionou. “Não pode ser, ele era tão alegre”. A outra, mais velha respondeu que mesmo as pessoas mais alegres também morrem.
Senti que a mais jovem estava bastante emocionada com a possibilidade de que o “senhorzinho” tivesse morrido. “Eu sabia que ele dizia que ia casar comigo e que isto era brincadeira dele, mas aquilo me fazia muito bem. Saber que havia alguém que me dava atenção, me elogiava, e que fazia questão que eu o servisse.”
Ela deu tempo. Respirou fundo. E voltou a falar: “sinto falta dele, sinto falta dele dizendo minha linda e sair dizendo que um dia iria se casar comigo”. Dito isto, ela entrou na cozinha. Não duvido que tenha ido ao banheiro curtir suas lágrimas e sentimentos.
Eu fiquei ali parado pensando no que havia ouvido e visto. Imaginei que, talvez, houvesse quem o tivesse ouvido dizendo “minha linda” para a jovem, ou “ainda me caso com você” e tenha dito: “velho safado”. 
Saí dali com lágrimas nos olhos. Cheguei ao meu destino com a coisa rodando na minha cabeça e refletindo no poder que a atenção tem de dar sentido à vida das pessoas, o como o elogio pode criar vínculos inimagináveis. Mais tarde, quando conversava com uma pessoa que tem problemas de relacionamento com sua equipe, contei a ele o que tinha presenciado. Senti que a coisa bateu forte nele. Acostumado a ser um sujeito extremamente racional e frio, vi seus olhos, tal qual os da jovem, marejarem.
Vivemos dias em que pouco tempo temos para prestar atenção nas pessoas, não nos arriscamos a elogiar quem nos serve, a dizer “minha linda”. Fomos criados para estar em relação com os outros, para amar o próximo como se fôssemos nós mesmos, para dar alegria ao outro. Acho que uma das missões mais sublimes da vida é plantar sorrisos na face das pessoas com as quais nos relacionamos.
Podemos fazer isto sorrindo, elogiando ou brincando. O humor é uma das formas mais sublimes que o ser humano tem para tornar a vida mais alegre, leve e prazerosa. Rir, sorrir, fazer sorrir e rir são o exercício do divino em nós. Na Idade Média se discutia e se digladiava sobre o tema do riso em Jesus. Havia os que defendiam que Ele, sim, riu, e outros diziam que, por ser o Filho de Deus, nunca teria sorrido.
Eu, de minha parte, acho que Deus dá gargalhadas com algumas coisas que fazemos ou dizemos e que Ele está no meio dos que se reúnem e dão boas risadas. Acho que, quando o “senhorzinho” brincava com a jovem, Deus dava seus sorrisos.

quarta-feira, 1 de agosto de 2018

Vínculos, amizades e tolerâncias

A família genética são aqueles que não escolhemos... simplesmente são. É o meu pai! É a minha mãe! são meus irmãos ! E se saímos desse primeiro círculos, já nos tornamos mais seletos: podem ser primos, mas não necessariamente amigos. E que bom que alguns o são...
Mas as amizades, há, as amizades !! Os amigos são a família que escolhemos ter... são os vínculos por adoção... o apego pelo que se tem afinidades, o afeto decidido.
Tenho tantas boas memórias de excelentes amigos... os da infância então... huuum !! Esses tem cheirinho gostoso de Resplendor: cheiro da escola, cheiro de caderno novo, cheiro de estojo de lápis (aquele de madeira). Vê-los novamente é sentir cheiro de festa junina, cheiro de recreio, de merenda (leite com chocolate numa caneca de alumínio que esquentava demais), cheiro das aulas de artes.
Mês passado, numa tarde de sábado, chegava a Resplendor (minha cidade natal), de moto, para mais um dos nossos maravilhosos encontros (consegui estar em 3 deles)... Enquanto entrava na cidade, essas memórias olfativas ajudavam-me a catalizar meu desconsertante prazer de estar ali... de chegar aonde nunca parti... saí de lá ... mas "lá" nunca saiu de mim. Mas desse sábado, escrevo depois.
Alguns dias antes do encontro, revi um desses amigos que decidimos que se torne família. Um dos que já protagonizou alguns dos meus escritos... esse amigo é desses que agenda com ele é serotonina pura, é riso constante, é alegria demais... Aliás, estar com esses amigos é antidepressivo na veia !!
Bom, ao revê-lo, me trouxe uma história que não me lembrava mais...
Um dia o convidei pra ir até ao clube da cidade, onde haviam 3 piscinas: a grande, de adultos; a média; e uma "pequena", de crianças... essa última, embora funda, ficava cheia até a altura de 50 cm , aproximadamente.
Chegamos lá, e tratei de apresentar imediatamente as piscinas pra ele... Tínhamos uns 7 anos de idade... ele, com cara de espanto, comentava sobre o tamanho das piscinas...
_ Vamos pular ? disse eu, referindo-me à piscina média e apontando em direção à ela.
_ Não sei se devo... é que não sei nadar ... respondeu-se ele, receoso.
_ Há, você ainda não aprendeu a nadar?
Antes que o amigo pudesse confirmar sua ignorância de movimentos hidrostática, empurrei-o para dentro de uma das piscinas...
O camarada se debatia desesperado, gritava socorro, e sacudia o corpo de um lado pro outro... alguns segundos depois, eu, assentado nessa piscina e rindo muito dele, tranquilizei-o e disse:
_ Fica em pé, ôô!! Aí onde você está é raso...
Ele, meio quadrado e sem graça, meio com raiva e meio agradecido... ficou em pé... Depois aprendeu a nadar fácil... Sou grato a Deus por esse amigo. Sempre foi. Nunca deixou de ser. Ele me faz bem em existir.
Você talvez me pergunte: mas você o o considerava amigo e faz isso com o cara ?
Se fosse inimigo, empurrava na piscina dos adultos, né não ? 

terça-feira, 31 de julho de 2018

A DANÇA


No humor dos amores, os pés não doem... 
nem sei se valem os passos ensaiados,
nem sei se são precisados...
As palavras que se vão: à esquerda e direita,
no pé do ouvido é que se busca o passe perfeito...
A pisada no dedão... ah, o toque chama o coração...

quinta-feira, 28 de junho de 2018

DESASTRADO OU BRUTO ?


Ontologicamente, vivo momentos de desconstrução. O que esperava que desse certo, não deu. O nunca planejei que desse certo, esse busco que dê... E nesses momentos de introspecção, pensamentos de si, questiona-se, certamente, muitas perguntas, e algumas compartilho: Quem eu sou ? Quem eu quero ser ? E quem eu preciso ser ?
Somos uma somatória: a soma de experiências, as de origem, onde nascemos, quem nos criou. Outras experiências que dependeram de nossasdecisões, com quem quisemos estar, o que fazer com a vida que tivemos... e temos...
Somos a soma dos olhares sobre nós. Olhares do desejo dos pais, sobretudo, o desejo da mãe... O primeiro que nos constroi.
Daí me vem a pergunta do título da reflexão: Sou desastrado ou bruto ?
A partir daquilo que chamamos de acidente, um copo/ prato quebrado, ou outras coisas e relações que se quebram, acorrem porque assim levam o risco do ser... não é assim a música de roda? "o anel que tu destes era vidro e quebrou..." vidros quebram... por maior cuidado que se tenha... Não sou desatrado. Tenho uma cuia (chimarrão) de cristal e me acompanha há mais de uma década...
A brutalidade, jeitão de gorila (minhas filhas me vêm esse "bom pai") , passa pela decisão tomada em momentos de estresse... lembro-me de uma motoneta 50cc que tinha aos 15 anos, entupia o carburador frequentemente. Tínha-se que desmontar e limpar e montar de novo ... assim o fiz numa dessas vezes de problemas mecânicos... e não deu certo... Estava na casa de uma das minhas irmas e ela quem me lembrou num dia desses, o que fiz naquela ocasião... peguei a motoneta levantei acima da cabeça, atravessei a rua e a joguei no mato, num terreno baldio, e o fiz o mais longe possível ...
Minha irmã ficou quietinha... depois que almoçamos e tomamos sorvete, adoçando um pouco mais a existencia, fui lá e a busquei. Repeti o procedimento. Ela funcionou.
Acho que bruto talvez seja... um pouco.
Vendi essa motoneta um tempo depois ... acho que cansei de montar e desmontar para que funcionasse... comprei uma bicicleta, e depois de quase dois anos, comprei a minha primeira 125cc...uma XLS-Honda... mas essa é outra história....

segunda-feira, 11 de junho de 2018

Dia "N" (dos Namorados)

Amanhã será um grande dia para os enamorados. Quando pensei em dar minha pífia contribuição aos corações, já motivados, vieram-me verdades teológicas/ religiosas, outras direções das psicologias (TCC, psicanálise, humanista...), e até mesmo os resultados modernos de pesquisas da Neuropsicologia...mas acredito que minhas veias existenciais me levaram para o encontro dos poetas, ainda que o sejam pesquisadores, psicólogos ou teólogos. A todos consultei, e o oráculo me trouxe coisas que me fazem muito bem... por isso, compartilho :
Lanço mão de um texto publicado pela Sociedade Campineira de Estudos em Sexualidade Humana - SCESH , deixando de citar especificamente os autores para evitação do pedantismo científico, já que me proponho beber na poesia. Apenas estará em aspas o que não é meu.
Romeu e Julieta, Helena e Paris, Dante e Beatriz, Bonnie e Clyde, entre tantos outros casais loucamente apaixonados, protagonizam romances trágicos. Histórias, mitos, romances literários, seja o que for, trazem-nos a força da paixão. Não bastasse a força, as delícias hormonais aproximam o estado do ente apaixonado ao mesmo de um usuário de substâncias que alteram o cérebro e a razão...
Enlouquecidos, somos felizes. E fazemos loucuras...Mas acaba. Toda loucura segue ao retorno da razão e a morte. Por isso a paixão é forte como a morte. Lembre-se dos casais que citei: Romeu e Julieta se matam; Helena e Paris provocam a guerra de Tróia, Paris morre e Helena volta ao seu marido; Dante experimenta o amor platônico com Beatriz, que ao morrer, faz com que Dante dê uma guinada em vida; e por fim, o casal criminoso é assassinado por uma equipe da lei...
Se buscarmos a loucura no amor, não a encontraremos. Somente a paixão tem autorização de nos enlouquecer. E, infelizmente, esta e aquele são excludentes: Se este, não aquele.
A história d"as mil e uma noites" nos convida a pensar no amor como forma mais homeostática da vida...pensar quem ama é pensar no que não acaba. Mil noites nos leva a uma intensidade, e mil e uma, uma eternidade ainda mais além...
Xerazade é a personagem que vai além: no amor "é preciso que a chama não se apague, mesmo que a vela vá se consumindo. A arte de amar, é a arte de não deixar que a chama se apague. Não se deve deixar a luz dormir. E coisa curiosa: a mesma chama que o vento impetuoso apaga, volta a acender pela carícia do sopro suave..."
"Os místicos e os apaixonados concordam que o amor não tem razões." Vítima de ambas realidades, me vejo a enveredar pelo pelo campo do ridículo, sem razões... como afirma Fernando Pessoa que cartas de amor são ridículas, a quem descrevo, em parte, o poema:

Todas as cartas de amor são  ridículas. 
Não seriam cartas de amor se não fossem 
ridículas. 

Também escrevi em meu tempo cartas de amor, 
Como as outras,  ridículas. 

As cartas de amor, se há amor, 
Têm de ser ridículas. 

Mas, afinal, 
Só as criaturas que nunca escreveram 
Cartas de amor é que são 
Ridículas. 

Continuando um pouco mais, sem nenhuma pretensão de deter a verdade do amor, nem tampouco encerrar o conceito e doutrinar o sentimento... não, até porque isso seria racional... e não seria ridículo.
Drummond, meu conterrâneo, me ajuda a me deliciar nessa noite prévia do dia dos apaixonados, citando-o souto e livre das impressoes dos livros poetizo o tão nobre mineiro:
"eu te amo porque te amo - sem razões"
"Não precisas ser amante, e nem sempre sabes sê-lo"
"Amor é estado de graça e com amor não se paga. É semeado pelo vento, na cachoeira, no eclipse. Amor foge a dicionários e a regulamentos vários... amor não se troca. Porque amor é amor a nada, feliz e forte em si mesmo.
A Drummond, responde Rubem Alves: "Meu amor independe do que me fazes. Não cresce do que me dás. Se fosse assim, ele flutuaria ao sabor dos seus gestos... Teria razões e explicações. Se um dia teus gestos de amante me faltassem, ele morreria como a flor arrancada da terra.
E viva os namorados !! Viva os afetos ! Parabéns aos apaixonados e aos que vivem o amor !!

sexta-feira, 8 de junho de 2018

Crônicas da Infancia: Daquela da Cachoeira

Ser criança é bom demais. Fui interpelado por alguém muito amado por mim, que conheço há muito tempo mesmo... "você gostou de virar adulto?" Puerilmente, respondi que nem vi isso acontecer na minha vida... as coisas simplesmente adulteceram... e sem que me aperceber, virei adulto.
Hoje, num processo dolorido de maturação, descobri que não gostei de virar adulto...
Por isso tenho nessas crônicas a volta das criancices. Dos anos lúdicos de compromisso com o riso, com as descobertas do que ainda não sabia e os desejos do que já sabia, ou pensava que sabia...
Minhas amizades nesses tenros anos de infância foram instrumentos deliciosos de existir. Então, as memórias com eles é que invoco pra escrever aqui.
Vou contar pra vocês sobre uma tarde de sábado que fomos à cachoeira do Niltinho (vale aqui o sentido Resplendorense de cachoeirar-se).
Minha mãe não me deixava tomar banho de rios, dizia ela que cachoeiras tem "sumidouros" que nos afogam e ficam com nossos corpos escondidos... às vezes me vejo querendo sumir um pouco dos olhares dos outros, esconder meu corpo e deixar apenas os conceitos de cada outro que tenha de mim... às vezes me vejo buscando uma cachoeira de novo...
Voltando naquele fatídico sábado, disse à minha mãe que iria no clube. Chamei um amigo à cumplicidade da in-verdade (preservo sua identidade pela sua lealdade naquele dia). E fomos pra experiência da queda d'água. Perto, que fomos de bicicleta. Longe o suficiente pra ser uma linda aventura pra virar história (e está virando agora que me lê)...
Brincamos, pulamos, rimos, refrescamo-nos. A fome bateu. Fomos agraciados por uma horta próxima. De um conhecido de um dos nossos. Comemos alface e  tomate com sal. Nunca uma salada me caiu tão bem...
Cheguei no fim da tarde. Bronzeado e cansado. Fui direto pro banheiro tomar banho...Alguns minutos de chuveiro, minha mãe abriu o box e perguntou: "como estava a piscina ?"
-"Muito boa." Disse eu, me esquivando do olhar divino que tudo conhece que tinha a mãe... acho que ela é responsável por eu não saber mentir. Nunca aprendi a colar na escola... Exceção do Nicanor/ História com as suas 40 perguntas/respostas, que acabavam por nos fazer estudar... e até essa folha datilografada em letras vermelhas e pretas (pergunta e resposta) me era custoso puxar de debaixo da mesa... mesmo com o professor lendo jornal, fumando na porta, olhando pra fora... Eu me inquietava, ruborescia, e suava frio...
-"Eu liguei para o clube algumas vezes e você não estava lá, Saulzinho !"
Ao ouvir que fui denunciado, antes de mesmo de elaborar qualquer desculpa, sem espaço pra correr, ou mesmo energia... o medo se misturou com o cansaço, vi que restava suportar a havaiana esfolar-me a pele bronzeada de sol de cachoeira...
Fiquei pensando se as borrachadas punitivas me tiraram o prazer das minhas lembranças daquele dia : Só que não !! Ainda que preferisse minha mãe comigo fazendo pequenique lá.
Por isso tantos pequeniques e tantas cachoeiras na minha vida! Pra continuar ser criança...
 

sábado, 2 de junho de 2018

SENTIMENTO

Como me sinto?
...cinto... apertado !
Como me sinto: santo?
profanado, talvez...
Como me sinto?
Anestesiado de vez!
Me sinto arrependido !
Arrependido de ter ter sentido
tudo que senti. Não deveria...
Não sofreria...