quinta-feira, 28 de junho de 2018

DESASTRADO OU BRUTO ?


Ontologicamente, vivo momentos de desconstrução. O que esperava que desse certo, não deu. O nunca planejei que desse certo, esse busco que dê... E nesses momentos de introspecção, pensamentos de si, questiona-se, certamente, muitas perguntas, e algumas compartilho: Quem eu sou ? Quem eu quero ser ? E quem eu preciso ser ?
Somos uma somatória: a soma de experiências, as de origem, onde nascemos, quem nos criou. Outras experiências que dependeram de nossasdecisões, com quem quisemos estar, o que fazer com a vida que tivemos... e temos...
Somos a soma dos olhares sobre nós. Olhares do desejo dos pais, sobretudo, o desejo da mãe... O primeiro que nos constroi.
Daí me vem a pergunta do título da reflexão: Sou desastrado ou bruto ?
A partir daquilo que chamamos de acidente, um copo/ prato quebrado, ou outras coisas e relações que se quebram, acorrem porque assim levam o risco do ser... não é assim a música de roda? "o anel que tu destes era vidro e quebrou..." vidros quebram... por maior cuidado que se tenha... Não sou desatrado. Tenho uma cuia (chimarrão) de cristal e me acompanha há mais de uma década...
A brutalidade, jeitão de gorila (minhas filhas me vêm esse "bom pai") , passa pela decisão tomada em momentos de estresse... lembro-me de uma motoneta 50cc que tinha aos 15 anos, entupia o carburador frequentemente. Tínha-se que desmontar e limpar e montar de novo ... assim o fiz numa dessas vezes de problemas mecânicos... e não deu certo... Estava na casa de uma das minhas irmas e ela quem me lembrou num dia desses, o que fiz naquela ocasião... peguei a motoneta levantei acima da cabeça, atravessei a rua e a joguei no mato, num terreno baldio, e o fiz o mais longe possível ...
Minha irmã ficou quietinha... depois que almoçamos e tomamos sorvete, adoçando um pouco mais a existencia, fui lá e a busquei. Repeti o procedimento. Ela funcionou.
Acho que bruto talvez seja... um pouco.
Vendi essa motoneta um tempo depois ... acho que cansei de montar e desmontar para que funcionasse... comprei uma bicicleta, e depois de quase dois anos, comprei a minha primeira 125cc...uma XLS-Honda... mas essa é outra história....

segunda-feira, 11 de junho de 2018

Dia "N" (dos Namorados)

Amanhã será um grande dia para os enamorados. Quando pensei em dar minha pífia contribuição aos corações, já motivados, vieram-me verdades teológicas/ religiosas, outras direções das psicologias (TCC, psicanálise, humanista...), e até mesmo os resultados modernos de pesquisas da Neuropsicologia...mas acredito que minhas veias existenciais me levaram para o encontro dos poetas, ainda que o sejam pesquisadores, psicólogos ou teólogos. A todos consultei, e o oráculo me trouxe coisas que me fazem muito bem... por isso, compartilho :
Lanço mão de um texto publicado pela Sociedade Campineira de Estudos em Sexualidade Humana - SCESH , deixando de citar especificamente os autores para evitação do pedantismo científico, já que me proponho beber na poesia. Apenas estará em aspas o que não é meu.
Romeu e Julieta, Helena e Paris, Dante e Beatriz, Bonnie e Clyde, entre tantos outros casais loucamente apaixonados, protagonizam romances trágicos. Histórias, mitos, romances literários, seja o que for, trazem-nos a força da paixão. Não bastasse a força, as delícias hormonais aproximam o estado do ente apaixonado ao mesmo de um usuário de substâncias que alteram o cérebro e a razão...
Enlouquecidos, somos felizes. E fazemos loucuras...Mas acaba. Toda loucura segue ao retorno da razão e a morte. Por isso a paixão é forte como a morte. Lembre-se dos casais que citei: Romeu e Julieta se matam; Helena e Paris provocam a guerra de Tróia, Paris morre e Helena volta ao seu marido; Dante experimenta o amor platônico com Beatriz, que ao morrer, faz com que Dante dê uma guinada em vida; e por fim, o casal criminoso é assassinado por uma equipe da lei...
Se buscarmos a loucura no amor, não a encontraremos. Somente a paixão tem autorização de nos enlouquecer. E, infelizmente, esta e aquele são excludentes: Se este, não aquele.
A história d"as mil e uma noites" nos convida a pensar no amor como forma mais homeostática da vida...pensar quem ama é pensar no que não acaba. Mil noites nos leva a uma intensidade, e mil e uma, uma eternidade ainda mais além...
Xerazade é a personagem que vai além: no amor "é preciso que a chama não se apague, mesmo que a vela vá se consumindo. A arte de amar, é a arte de não deixar que a chama se apague. Não se deve deixar a luz dormir. E coisa curiosa: a mesma chama que o vento impetuoso apaga, volta a acender pela carícia do sopro suave..."
"Os místicos e os apaixonados concordam que o amor não tem razões." Vítima de ambas realidades, me vejo a enveredar pelo pelo campo do ridículo, sem razões... como afirma Fernando Pessoa que cartas de amor são ridículas, a quem descrevo, em parte, o poema:

Todas as cartas de amor são  ridículas. 
Não seriam cartas de amor se não fossem 
ridículas. 

Também escrevi em meu tempo cartas de amor, 
Como as outras,  ridículas. 

As cartas de amor, se há amor, 
Têm de ser ridículas. 

Mas, afinal, 
Só as criaturas que nunca escreveram 
Cartas de amor é que são 
Ridículas. 

Continuando um pouco mais, sem nenhuma pretensão de deter a verdade do amor, nem tampouco encerrar o conceito e doutrinar o sentimento... não, até porque isso seria racional... e não seria ridículo.
Drummond, meu conterrâneo, me ajuda a me deliciar nessa noite prévia do dia dos apaixonados, citando-o souto e livre das impressoes dos livros poetizo o tão nobre mineiro:
"eu te amo porque te amo - sem razões"
"Não precisas ser amante, e nem sempre sabes sê-lo"
"Amor é estado de graça e com amor não se paga. É semeado pelo vento, na cachoeira, no eclipse. Amor foge a dicionários e a regulamentos vários... amor não se troca. Porque amor é amor a nada, feliz e forte em si mesmo.
A Drummond, responde Rubem Alves: "Meu amor independe do que me fazes. Não cresce do que me dás. Se fosse assim, ele flutuaria ao sabor dos seus gestos... Teria razões e explicações. Se um dia teus gestos de amante me faltassem, ele morreria como a flor arrancada da terra.
E viva os namorados !! Viva os afetos ! Parabéns aos apaixonados e aos que vivem o amor !!

sexta-feira, 8 de junho de 2018

Crônicas da Infancia: Daquela da Cachoeira

Ser criança é bom demais. Fui interpelado por alguém muito amado por mim, que conheço há muito tempo mesmo... "você gostou de virar adulto?" Puerilmente, respondi que nem vi isso acontecer na minha vida... as coisas simplesmente adulteceram... e sem que me aperceber, virei adulto.
Hoje, num processo dolorido de maturação, descobri que não gostei de virar adulto...
Por isso tenho nessas crônicas a volta das criancices. Dos anos lúdicos de compromisso com o riso, com as descobertas do que ainda não sabia e os desejos do que já sabia, ou pensava que sabia...
Minhas amizades nesses tenros anos de infância foram instrumentos deliciosos de existir. Então, as memórias com eles é que invoco pra escrever aqui.
Vou contar pra vocês sobre uma tarde de sábado que fomos à cachoeira do Niltinho (vale aqui o sentido Resplendorense de cachoeirar-se).
Minha mãe não me deixava tomar banho de rios, dizia ela que cachoeiras tem "sumidouros" que nos afogam e ficam com nossos corpos escondidos... às vezes me vejo querendo sumir um pouco dos olhares dos outros, esconder meu corpo e deixar apenas os conceitos de cada outro que tenha de mim... às vezes me vejo buscando uma cachoeira de novo...
Voltando naquele fatídico sábado, disse à minha mãe que iria no clube. Chamei um amigo à cumplicidade da in-verdade (preservo sua identidade pela sua lealdade naquele dia). E fomos pra experiência da queda d'água. Perto, que fomos de bicicleta. Longe o suficiente pra ser uma linda aventura pra virar história (e está virando agora que me lê)...
Brincamos, pulamos, rimos, refrescamo-nos. A fome bateu. Fomos agraciados por uma horta próxima. De um conhecido de um dos nossos. Comemos alface e  tomate com sal. Nunca uma salada me caiu tão bem...
Cheguei no fim da tarde. Bronzeado e cansado. Fui direto pro banheiro tomar banho...Alguns minutos de chuveiro, minha mãe abriu o box e perguntou: "como estava a piscina ?"
-"Muito boa." Disse eu, me esquivando do olhar divino que tudo conhece que tinha a mãe... acho que ela é responsável por eu não saber mentir. Nunca aprendi a colar na escola... Exceção do Nicanor/ História com as suas 40 perguntas/respostas, que acabavam por nos fazer estudar... e até essa folha datilografada em letras vermelhas e pretas (pergunta e resposta) me era custoso puxar de debaixo da mesa... mesmo com o professor lendo jornal, fumando na porta, olhando pra fora... Eu me inquietava, ruborescia, e suava frio...
-"Eu liguei para o clube algumas vezes e você não estava lá, Saulzinho !"
Ao ouvir que fui denunciado, antes de mesmo de elaborar qualquer desculpa, sem espaço pra correr, ou mesmo energia... o medo se misturou com o cansaço, vi que restava suportar a havaiana esfolar-me a pele bronzeada de sol de cachoeira...
Fiquei pensando se as borrachadas punitivas me tiraram o prazer das minhas lembranças daquele dia : Só que não !! Ainda que preferisse minha mãe comigo fazendo pequenique lá.
Por isso tantos pequeniques e tantas cachoeiras na minha vida! Pra continuar ser criança...
 

sábado, 2 de junho de 2018

SENTIMENTO

Como me sinto?
...cinto... apertado !
Como me sinto: santo?
profanado, talvez...
Como me sinto?
Anestesiado de vez!
Me sinto arrependido !
Arrependido de ter ter sentido
tudo que senti. Não deveria...
Não sofreria...