sábado, 19 de julho de 2014

DESPEDIDA

Despeço-me de mais uma vida que passou pela minha vida.
Morreu Rubem Alves, Teólogo, poeta, escritor (também de literatura infantil),
educador, além disso tudo, humano e apaixonado pelo que é humano.
Com visão psicanalítica da vida, facilitava-nos a percepção de nós mesmos.
Por uma aula de Teologia Contemporânea nos tempos de graduação, proporcionada
pelo seu colega de formação (Oadi Salum), meu então professor;
Por uma noite em que saiu com alguns alunos veteranos do curso de Teologia para uma pizza;
Por algumas palestras ouvidas no decorrer da minha história: algumas pessoalmente,
outras "youtubeanamente"
Por alguns alguns livros autografados;
Por tantos outros lidos e relidos;
Despeço-me com raiva da morte e decepcionado com o tempo: este que nos foge
e aquela que nos atropela fortuitamente...
Citando Cecília Meireles: (O rei do mar)

"...Curta vida. Longo mar.

Por água brava ou serena
deixamos nosso cantar,
vendo a voz como é pequena
sobre o comprimento do ar.
Se alguém ouvir, temos pena:
só cantamos para o mar..."

sexta-feira, 27 de junho de 2014

O QUE NOS INSPIRA?

Inspiração... será intrínseco ou extrínseco ao que escreve?
O que será a coisa que nos impulsiona a produzir textos?
Algo que está dentro de nós ou fora de nós?
Outro dia ouvi de uma artista plástica que é ruim produzir desenhar algo sob encomenda, pois sabe que essa obra irá ser levada embora: é produzir com o sentimento antecipado da perda.
Mas aqui nesse espaço não há encomenda. Não há perda. Não há limites de produção.
Em tudo que escrevi por aqui, o fiz pra mim. O fiz pra compartilhar. Compartilhar sentimentos e percepções; lembranças e saudades; esperanças e frustrações; medos e sonhos...
Os textos vêem de coisas internalizadas, vêem de desejos do outro, vêem dos encontros e desencontros de ambos.
Sentir é bom, melhor é dar palavras aos sentimentos.
Escrever é bom, melhor é dar sentimentos ao que se escreve.

sexta-feira, 2 de maio de 2014

CAUSOS DE CAPIAU: AQUELA DE QUANDO QUEBREI O BRAÇO

Já faz alguns meses que não conto causos. Outro dia um amigo arguiu-me a respeito: "não vai contar mais casos? " Não sei explicar da motivação dos outros causos... sei desse. Pelos amigos que curte me ler.
Tenho muitos casos. Morei no interior. Mudei muitas vezes. Fiz muitas amizades... das amizades surgem causos, da família surgem causos, de nossa história... que é a união de vários causos.
Nem todos são engraçados, nem todos felizes: mas todos são família, são amigos, são vida. Mesmo os que lembram o dia dos machucados.
Minha família de origem é aquela intermediária: nem tão grande, como nas décadas de 20, 30 ou 40; nem tão pequena como nos anos 80, 90 ou nos dias de hoje. Plagiando um escritor, "éramos 6" , um morreu de meningite antes de fazer um ano.
Próximo da minha casa (sítio), numa distância de tiro de espingarda, morava a comadre da minha mãe, casada com um irmão de meu pai (por parte de pai). Meus tios tiveram mais filhos que lá em casa. Alguns regulavam idade com a gente. No dia desse causo, tinha eu uns 4 ou 5 anos. Assim, o caçula de lá é um ano mais velho que eu. Próximo da idade do meu irmão há primos e primas. A amizade coexiste pelos laços consanguíneos.
Era uma manhã de sol, fim da primavera, perto do verão: as mangueiras carregadas pintavam de amarelo o chão do quintal. "Seu" Crioulo, todas as manhãs, alimentava os porcos com a doce fruta. Já contei do "seu" Crioulo aqui.
Com o canto do carro de boi, já pensei nos primos que chagavam pra visitar: as comadres precisavam "tricotar", e enquanto isso brincavam os primos. Corri mais que o vento pra me encontrar como carro antes mesmo dele cruzar a porteira, assim podia vir com eles fazendo a festa da chegada, cruzei um pasto pra atalhar e chegar na estrada. Correndo atrás do carro de boi, estendi a mão, como que solicitando ajuda pra subir, e queria fazê-lo em movimento: é mais excitante.
O caçula dos de lá, estendeu a mão e eu confiei o meu peso e o meu salto. Acho que com o empuxo, ele não aguentou. Deslizei do meio do meio do caminho para o chão. Quis girar o corpo pra não cair de costas, quebrei o braço direito em três lugares.
Esse só foi dos muitos tombos que tomei.
Nos dois sentidos da palavra.

quarta-feira, 2 de abril de 2014

A PESSOA DA SAUDADE

Por Joyce Boechat Henrique
Ah, saudade...
...porque não vens de mansinho e te achegas sem pressa? 
Não quero que demores, e sim, amadureça.
Pois trouxeste lembranças que eu quero relembrar...
Fez trazer á memória aquilo que não voltará. 
Aquele dia dos sorrisos, que cada um tinha o seu... 
Ou aquele dia, que um deles se perdeu. 
Na noite em que a festa era de abraçar. 
Ou então no amanhecer, que era pra consolar. 
Naquela dança de amores, formando uma trilha sonora de cores,
na mesa dos sabores, só me resta lembrar. 
Mas ficas em silêncio, apenas quando dorme. 
Pois quando te acordas, faz um buraco enorme. 
Talvez sejas útil para podermos reparar; 
quem está te causando, com eles eu queria estar...
Ah, saudade...