segunda-feira, 15 de outubro de 2018

EU ESCOLHO MEUS AMIGOS PELA PUPILA

E tivemos outro desses (21/07/2018) : onde os sorrisos são encharcados de boas lembranças de memórias compartilhadas... o que não sei de mim, o outro sabe... e traz. Risos e gargalhadas nos embriagam de serotonina... começamos a nos encontrar quando a maioria fazia quarenta... agora não vamos mais parar... até que os encontros se tornem fortuitos, com datas não agendadas para as despedidas definitivas depois que virarmos a casa dos 100... 
Agradeço, em especial, Beta e Marcos, que enfeitaram o último encontro com uma cerimônia de renovação de votos de quase 30 anos de matrimônio. Além disso, fomos embalados afetivamente com palavras sinceras de Bethânia ao final daquela fantástica liturgia; texto que passo a transcrever abaixo:

"Escolho meus amigos não pela pele outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante. A mim não interessa os bons de espírito, nem os de maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta: quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e aguentem o que há de pior de mim. Para isso, só sendo louco. Quero os santos para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.
Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta ! Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria!
Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade; Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos. Quero amigos sérios que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, ao mesmo tempo em que lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos e nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade, velhice! Crianças para que não se esqueçam o valor do vento no rosto e velhos para que nunca tenham pressa. Tenho amigos pra saber quem eu sou. Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que normalidade é uma ilusão imbecil e estéril.
Vocês estão aqui [na cerimonia] é porque fazem parte da minha história, especiais e incríveis. Amo vocês com todo o meu coração"
Maria Bethânia Daros Dantas Campos

sexta-feira, 5 de outubro de 2018

Histórias de capiau: daquelas novidades tecnológicas

O ano era 1986. Chegava ao mercado os aparelhos de vídeo que lia fitas VHS (ou BETAMAX - anteriormente). A onda agora era "cinema em casa" escolhendo o filme, os filmes em SUPER8 eram caros e de má qualidade. Meu pai não era dado a novidades... pagava pessoas pra lavar as roupas de nossa casa, quando já havia máquinas de lavar roupas a décadas...
Mas o foco aqui não será nem o vídeocassete, nem a máquina de lavar roupas... quero compartilhar uma de muitas férias em que trabalhava no sítio do meu pai. Sobre esse trabalho, sim, que quero te contar umas coisas bem legais.
Logo que cheguei na roça (a gente chamava o sítio assim), meu pai Saul me disse: Vamos ter de vacinar uns bezerros e aproveitar para mochar e marcar eles... preciso de sua ajuda ... (como seu eu tivesse escolha).
Quem sabe desses movimentos junto aos filhotes desses dóceis ruminantes lembra que, devido ao tamanho, não há como colocá-los no corredor, pois passavam por baixo das réguas de contenção..
É preciso pegá-los a mão pra qualquer coisa que se faça: Vacinas, queima do chifre ou a marcação... que aprendi recente com alguém muito amada, que pode ser chamado de carimbação... onde o ferro de marca (como eu conhecia) é chamado de carimbo.
Bom, eram muitos bezerros, não me lembro quantos. Alguns pequenos e mais fáceis de dominar e imobilizar. Estávamos meu pai, alguns funcionários e eu.
A coisa era (e ainda deve ser) mais ou menos assim: colocava alguns bezerros (uns 5 de cada vez) em uma área do curral em que pudesse ser pego e imobilizado no chão. Corríamos ao lado do bezerro, abraçando seu pescoço e dando um leve giro pra desequilibrá-lo e levá-lo ao chão. Minha consultora especialista já citada, lembrou-me que, estando ao chão, o rabo do bezerro era colocado entre suas patas traseiras e puxado pra cima, ajudando a deixá-lo quieto... talvez daí a expressão "saiu com o rabo entre as pernas"...
Acontece que, ao correr ao lado do bezerro, você pode ter seus pés pisados por ele, e ainda pode cair junto com ele, e, claro, ser lameado pela pasta mais presente nesses currais, pasta esta rica em nutrientes orgânicos colocada em jardins e plantações diversas.
Não tinha tempo ruim pra mim. Queria deixar um bom nome como filho do dono. Enquanto os funcionários escolhiam os mais novinhos, eu juntava forças nos mais robustos, desafiando seus brandidos de protestos à sua imobilização. Minha coragem era reforçada pelos gritos e elogios do meu pai, que dizia: Ocês tem que fazer que nem o Saulzinho... cês fica com medo do bicho!"
Fomos almoçar bem tarde, pra conseguir fechar o serviço. Morto de fome, lavei as mãos e os braços pro almoço... não era uma companhia muito cheirosa naquele dia...
Mas onde fica a tecnologia?? Enquanto almoçava, meu pai me perguntou se ainda queria comprar o tal aparelho de passar filme, como disse ele.
No outro dia, fomos comprar um SEMP 4 cabeças. Tope na época. Fiquei feliz tal qual pinto no lixo. Valeu a pena os pés cheio de hematomas dos pisoes e o cheirinho de esterco que me acompanhou uns dias ...
Meu pai era uma pessoa grata. Aliás, essa foi uma da muitas virtudes que deixou pra mim.