domingo, 22 de novembro de 2015

CACOS

Tenho esse blog para extravasar emoções: quando muito, quando me entorna, quando transborda, então, buscar transformar esses afetos em palavras me coloca no eixo, me dá luz ao reencontro do caminho.
"Cada um sente de um jeito as coisas..." ouvi isso hoje.
Em algumas décadas atras ouvi que somos chamados a ajuntar cacos, mas não somos chamados a cuidar para que não se quebre... então, quando se vive os riscos de se quebrar não há busca de manutenções;  quebra dos acordos, das relações, das verdades de que se crê.
Ajuntar cacos é o que se há fazer depois que está quebrado. Não há outro caminho. Limpar, descartar ou reciclar e tocar a vida... o que se foi, foi. Não há mais. Há memórias, não há inteiros.
Quando há cacos, não há mais interice, se der para colar os cacos, serão cacos colados, não o inteiro.
O que resta ? Resta a essência, como diria Aristóteles. Os cacos são acidente do acidente. A essencia: areia; o acidente: a peça; outro acidente: os cacos.
Mas no trabalho de ajuntar cacos há que machucar ... necessário é ajuntar...

terça-feira, 7 de julho de 2015

MORTE E VELÓRIO

Hoje, mais uma vez fui atravessado pelos afetos vividos em um luto...Nos olhares trocados... no choro compartilhado...
Não conhecia o senhor que faleceu... mas não precisava disso para fazer idéia dos sentimentos ali experimentados: já sepultei meus pais; já me despedi de amigos; já celebrei várias despedidas. Já chorei muita gente da minha história, da minha caminhada; gente que compartilhou sorrisos, abraços, amores...
Penso que o choro do velório é uma antecipação da saudade. Não o veremos mais, contamos agora só com as imagens: as de fora de nós e as de dentro também.
Porque será que nos chocamos tanto com a morte, se é a agenda absoluta de tudo que é vivo? Uma das certezas mais presentes em nós é a de que morreremos!
Duas questões vêem ao meu encontro na tentativa de cuidar de mim nesse frágil momento: A primeira, de que não fomos criados para morrer; a segunda, de que todo sepultamento nos provoca ao espelhamento da nossa própria finitude.
No livro do Eclesiastes, livro da Bíblia que traz reflexões sobre a vida e a morte, traz-nos que o Criador nos fez com eternidade dentro de nós (cap. 3 verso 11); não nos quedamos à morte, queremos a vida. Fugimos daquela e agendamos constantemente esta.
Cada velório sepultamos um pouco de nós. A terra que é jogada no ritual  da despedida é o ensaio daquela que nos espera.

quarta-feira, 29 de abril de 2015

DO APITO DO TREM

Ouvi agora há pouco um apito do trem...
Apito de trem apita minha infância...
EFVM-Estrada de Ferro Vitória a Minas.
Caminho entre dormentes a catar bolinhas
de minério para brincar de estilingues...
Tiro ao alvo. Não gostava de matar passarinhos.

Apito de trem apita viagem. Férias. Cheiro de mar.
Apito de trem apita amizades de viagem.
Batepapo, flertes, paixões do verão...

Apito de trem apita casa do vovô,
irmãs, cunhados e sobrinhos...
Apito de trem apita movimento, mudanças,
sem sair dos  trilhos...

Apito de trem apita aventuras !

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Noites e Nostalgias

As noites refrescam o dia... por vezes, aliviam a alma...
Como bem afirmou uma amiga: "Noites nostálgicas, tantas lembranças... 
a saudade só faz apertar... orgulho de minhas origens..."


quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

MUTATIS MUTANDIS

Longe de fazer elucubrações jurídicas a partir da expressão em latim do título, antes contudo, fazendo uso da motivação que nos projeta tais significados para a expressão, por ora emprestada, "mudando o que precisa ser mudado"... e plagiando o conhecido escritor "mudar é preciso..."
O que nos faz mudar? Ou o que nos faz pensar que precisamos mudar?
O que nos intrínseco: a vida vivida nos faz mudar. Por vezes, nem queremos. Mas a biologia e o seu relógio nos faz mudar. Crescimento é mudança: com ganhos e perdas.
O que nos é extrínseco: a percepção da história, as decisões que tomamos, as relações que abraçamos e as que deixamos de abraçar.... O tempo e o olhar o tempo nos faz mudar.
Mudar sempre nos trará ganhos e perdas. Decidimos qual será o foco. Se for as perdas, a vida poderá se tornar saudosista...
Se a decisão do foco for a esperança de rumos refeitos e re-sonhados através de mudanças experimentadas, entao... mutatis mutandis.