sexta-feira, 8 de junho de 2018

Crônicas da Infancia: Daquela da Cachoeira

Ser criança é bom demais. Fui interpelado por alguém muito amado por mim, que conheço há muito tempo mesmo... "você gostou de virar adulto?" Puerilmente, respondi que nem vi isso acontecer na minha vida... as coisas simplesmente adulteceram... e sem que me aperceber, virei adulto.
Hoje, num processo dolorido de maturação, descobri que não gostei de virar adulto...
Por isso tenho nessas crônicas a volta das criancices. Dos anos lúdicos de compromisso com o riso, com as descobertas do que ainda não sabia e os desejos do que já sabia, ou pensava que sabia...
Minhas amizades nesses tenros anos de infância foram instrumentos deliciosos de existir. Então, as memórias com eles é que invoco pra escrever aqui.
Vou contar pra vocês sobre uma tarde de sábado que fomos à cachoeira do Niltinho (vale aqui o sentido Resplendorense de cachoeirar-se).
Minha mãe não me deixava tomar banho de rios, dizia ela que cachoeiras tem "sumidouros" que nos afogam e ficam com nossos corpos escondidos... às vezes me vejo querendo sumir um pouco dos olhares dos outros, esconder meu corpo e deixar apenas os conceitos de cada outro que tenha de mim... às vezes me vejo buscando uma cachoeira de novo...
Voltando naquele fatídico sábado, disse à minha mãe que iria no clube. Chamei um amigo à cumplicidade da in-verdade (preservo sua identidade pela sua lealdade naquele dia). E fomos pra experiência da queda d'água. Perto, que fomos de bicicleta. Longe o suficiente pra ser uma linda aventura pra virar história (e está virando agora que me lê)...
Brincamos, pulamos, rimos, refrescamo-nos. A fome bateu. Fomos agraciados por uma horta próxima. De um conhecido de um dos nossos. Comemos alface e  tomate com sal. Nunca uma salada me caiu tão bem...
Cheguei no fim da tarde. Bronzeado e cansado. Fui direto pro banheiro tomar banho...Alguns minutos de chuveiro, minha mãe abriu o box e perguntou: "como estava a piscina ?"
-"Muito boa." Disse eu, me esquivando do olhar divino que tudo conhece que tinha a mãe... acho que ela é responsável por eu não saber mentir. Nunca aprendi a colar na escola... Exceção do Nicanor/ História com as suas 40 perguntas/respostas, que acabavam por nos fazer estudar... e até essa folha datilografada em letras vermelhas e pretas (pergunta e resposta) me era custoso puxar de debaixo da mesa... mesmo com o professor lendo jornal, fumando na porta, olhando pra fora... Eu me inquietava, ruborescia, e suava frio...
-"Eu liguei para o clube algumas vezes e você não estava lá, Saulzinho !"
Ao ouvir que fui denunciado, antes de mesmo de elaborar qualquer desculpa, sem espaço pra correr, ou mesmo energia... o medo se misturou com o cansaço, vi que restava suportar a havaiana esfolar-me a pele bronzeada de sol de cachoeira...
Fiquei pensando se as borrachadas punitivas me tiraram o prazer das minhas lembranças daquele dia : Só que não !! Ainda que preferisse minha mãe comigo fazendo pequenique lá.
Por isso tantos pequeniques e tantas cachoeiras na minha vida! Pra continuar ser criança...
 

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