segunda-feira, 3 de junho de 2013

MAIS HISTÓRIAS DE CAPIAU: AQUELAS REUNIÕES

Lá pras Minas Gerais. Eram os primeiros anos da década de 70... talvez já houvesse sinais da cultura hippie, mas lá em casa não tinhamos TV. Lembro-me do meu pai ter comprado uma... não "pegava" o sinal, ainda que a antena fosse colocada num morro, há mais cem metros de casa: e foi mesmo! Ela só fazia chiar... e como era legal dizer que tinha uma TV na minha casa, e como era legal ligá-la pra ouvir a chieira. Minha mãe colocou uma de suas toalhinhas de crochê e um enfeite com flores sobre ela. Enjoamos da chieira.
O que era muito bom eram as  reuniões na cozinha, enorme, com uma mesa de oito cadeiras. O tampo dessa mesa eram pranchoes de madeira de lei. Reuniões culinárias nas manhãs em que minha mãe derramava um tacho de doce de leite fervente na mesa e ajudávamos a cortar os tabletes depois de esfriar. Minhas irmãs e eu. Reuniões de stand up comedy, onde meu pai contava seus causos e aventuras no cair da tarde, ao redor do fogão à lenha... essa tinha um público maior: primos, tios e tias, por vezes alguns funcionários que trabalhavam com meu pai...cuidando do gado, ou plantando coisas "a meia", como diziam.
Reuniões administrativas onde meu pai acertava as contas com o pessoal que trabalhava "a dia". Ficava olhando, quietinho, admirando a forma austera e paradoxalmente simples com que ele tratava dos subordinados. Às vezes fazia uma pausa, e numa xícara de café compartilhada, se vinculava numa coexistência ontológica, que o colocava  como um dos patrões preferidos da região, mesmo não sendo o que pagava maior valor pelo trabalho. Era o trato. Fino trato. Igual trato.
Reuniões que me ensinaram a fazer, a rir e a SER... saudades dessas reuniões...

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