segunda-feira, 24 de junho de 2013

HISTÓRIAS DE UM CAPIAU: DAQUELES VÍCIOS

Há quase quarenta anos atrás, longe das ideologias WOODSTOCK  ou da filosofia hippie dos anos 70, de apologias a Cannabis, num sítio próximo a um certo vilarejo, meu pai celebrava todos os dias pelas manhãs o seu tabagismo: um cigarro de palha... um só! confeccionado antes de 6hs da manhã, que o acompanhava durante o dia. Acendia... depois dois ou três tragos, apagava. Diversas vezes até o cair da tarde. Outro dia pensava eu nessa dependência, desse admirado tabagista da minha história e cheguei a conclusão que seu cigarro de palha aproximava-nos quase todos os dias. Eu acordava cedo. Acordava com ele... às vezes o acordava saindo do meu quarto correndo em direção ao dele,  pulando no meio dos dois ... minha mãe só abria o espaço pra minha acolhida acompanhado de um gemido ou outro. Meu pai despertava e ficávamos conversando sobre como iria ser o dia... quais seriam as demandas... nalguns desses planejamentos eu podia me incluir: gostava de ficar perto dele. Levantávamos os três, minha mãe ia cuidar do café: isso implicava em buscar a lenha e acender o fogão. Quase sempre meu pai se envolvia nesse paciente empreendimento pirotécnico. Colocar sabugos de milho associados a pequenos gravetos para um primeiro fogo... este acenderia as outras lascas... para um fogo quase o dia todo. Enquanto ocorria toda a dinâmica do café, meu pai me chamava num canto e me pedia que buscasse palhas de milho no paiol... fazia isso à parte, pois minha mãe não gostava que ele me envolvesse no processo... saia meio de fininho, caminhava até o paiol, uns cinquenta metros da cozinha e trazia correndo algumas palhas selecionadas. A esta altura já havia aprendido quais seriam as melhores palhas pra enrolar o cigarro. Após entregar o primeiro item da matéria prima, o acompanhava até a despensa, onde ficava um saco com fumo de rolo, enrolado feito uma corda. Um pedaço desse rolo era picotado e conduzido numa colher até a chapa do fogão à lenha: era pra secar o fumo, tipo uma desitratação, pra facilitar a queima na palha... e eu ali, quieto, obervando o investimento, a caminhada, o ir prum lado e para o outro em prol do cigarro de palha nosso de cada dia. Ficava de prontidão: "pega o canivete pra mim!" "fecha aquela porta ..." qualque coisa que me pedisse... era bom estar perto dele... então valia a pena pagar o preço... achava eu... acho. Meu pai pegava a palha e a media retangularmente. Assim a cortava. Aparava as pontas. Esfregava a faca sobre ela pra deixá-la mais sedosa. Depois a pinçava com o indicador e o polegar e segurava firme pra depositar o fumo. Enrolava bem, molhava a beiradinha pra fechar e apertar. Usava a caixa de fósforos pra ajustar a brasa recém acesa na ponta do cigarro... todo o processo era imitado por mim quando meu pai viajava, só que no lugar do fumo, colocava o cabelinho da boneca do milho maduro. Queimava bem e fazia muita fumaça... era uma forma de trazer meu pai pra casa... pra perto de mim. Uma forma de esquivar-me da angustia da saudade... que não tem remédio... nesse caso, o tabagismo do meu pai me aproximava dele. O Luiz Gonzaga (o Gonzagão) escreveu música com meus sentimentos. "Cendo um cigarro de vez em quando, pra esquecer de pra alembrar," ...
Meu pai parou de fumar uns 10 anos mais tarde... mas continuamos parceiros em outros "vícios" saudáveis...

Nenhum comentário:

Postar um comentário