quinta-feira, 26 de outubro de 2017

Cronicas da infância: aquela da primeira vez no mar

Sou mineiro. O mar estava a pouco mais de 100Km de onde nasci. O Espírito Santo é a praia mais próxima... E esse estado tinha de ter esse nome: porque o mar é muito de Deus.
O mar espanta, o mar consola, o mar nos traz a sensação a sensação de infinito... o mar é desafiante.
Mas voltemos aquela viagem de infância com expectativas de conhecer o mar...
Era anos 70, iríamos visitar meus avós, tinham mudado para o litoral capixaba em busca de melhor qualidade de vida: tomaram conhecimento das areias monazíticas, nas praias de Guarapari, a 50Km da Capital.
Eu tinha a promessa de conhecer o mar, já que numa outra visita, ficaram me devendo. Imagina? Fui na Grande Vitória e não fui na praia?
Agora, com os planos de "praiar" , lambia os beiços quando o trem da Estrada de Ferro Vitória a Minas (CVRD) chegava na beira da Baía de Vitória...e lambendo os beiços, claro que lambia um bocado de minério de ferro, pois a mesma estrada é usada até hoje para transportar minério das Minas Gerais para as Siderúrgicas no Município de Serra (ES). A gente ficava cinza de pó nessa viagem... Hoje existem vagões com ar condicionado... nos idos de 70 viajavam galinhas, papagaios e etc...
Chegamos a noite. Por mim, iria na praia naquela hora, nem esperaria o sol chegar.
Tive dificuldade de dormir, estava ansioso e pensando nas figuras que contemplava e apreciava uma grande obra do Criador.
No outro dia cedo mal podia esperar, meu café foi ligeiro, mas parecia que só estava assim: buscavam toalha, chapéu, e outras coisas para levar. Eu não queria levar nada! Eu queria buscar... buscar uma contemplação nunca dantes experimentada. Outras pessoas que haviam ido a praia me contaram. Agora eu teria meu relato, meu jeito... Eu iria buscar os cheiros que as páginas de revistas não traziam...
Não me lembro bem quem me acompanhou... acho que uma de minhas irmãs e o namorado...acho...
O grande momento: sai do carro devagar, cheirava a brisa com o cheiro de sal, pisava nas areias grossas do lugar, escutei de longe as batidas das ondas na praia, como se acariciasse as areias. Não entrei de uma vez. Fiquei medindo a grandeza daquele lugar, continuei devagar, a areia esfriou quando cheguei onde a água encharcava... fiquei ali, onde eram feitas espuminhas, sentia um monte de coisas dentro de mim: deslumbre, alegria, espanto e um pouco de medo... ele merecia meu respeito... entenderia melhor tudo isso, lendo depois "O velho e o mar" de Ernest M. Hemingway.
Muitos anos depois levaria minhas filhas a esta experiência: ver o mar... mas isso é outra história.

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